Supremum - Despertar - T1/E2

 


Desde pequeno, Andrew se destacou. Era mais forte que os garotos da sua idade, sua resistência parecia sobrenatural, e sua mente absorvia conhecimento com uma facilidade impressionante. Aos cinco anos, já lia livros avançados de ciências, algo que deixou sua mãe entre orgulhosa e preocupada. O governo poderia desconfiar caso descobrisse que o menino havia herdado algo do acidente que matou seu pai.

— Mamãe, por que eu nunca fico doente? — perguntou Andrew certa vez, enquanto brincava no quintal. Havia caído da árvore mais alta da casa, sem sequer um arranhão.

Luíza engoliu em seco, medindo as palavras.

— Você é forte, meu amor. Algumas pessoas nascem diferentes. Mas nunca deixe ninguém perceber isso, está bem?

A criança concordou, sem entender completamente. Mas aquela conversa ficou marcada em sua mente.

Com o passar dos anos, Luíza reforçou o ensino de humildade e discrição. Criado com uma educação rigorosa, Andrew aprendeu a controlar sua força e esconder suas habilidades. Mas conforme cresceu, as perguntas começavam a surgir.

Por que posso ver detalhes em objetos a quilômetros de distância? Por que nunca me canso, mesmo depois de horas de esforço físico intenso?

O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu de tons dourados e alaranjados. O pátio do Colégio Estadual de Cosmópolis estava lotado de alunos saindo após um longo dia de aulas. Risadas e conversas ecoavam pelo ar enquanto grupos de amigos caminhavam até o portão principal, onde os pais aguardavam dentro de seus carros.

Andrew Menning, então com 15 anos, estava encostado em uma árvore perto da calçada, distraído enquanto lia um livro. A leitura sempre foi seu refúgio, especialmente quando tentava ignorar os olhares curiosos de seus colegas. Ele nunca fez sentido completamente nesse mundo.

Foi então que um som estridente reduziu a tranquilidade do ambiente.

— CUIDADO! — transmitiu uma voz desesperada.

Andrew transferiu os olhos a tempo de ver um carro preto, um sedã velho e desbotado, vindo em alta velocidade pela rua estreita em frente à escola. O motorista não parecia estar no controle. O veículo pulava violentamente ao bater no meio-fio, avançando direto para um grupo de crianças que brincava perto do portão.

O tempo pareceu desacelerar.

Os olhos de André se arregalaram. Ele sentiu seu coração martelar dentro do peito, um instinto primitivo tomando conta de seu corpo. Ele sabia que ninguém chegaria a tempo para impedir aquilo. Nenhum adulto, nenhum professor, ninguém.

Sem pensar, ele se moveu .

Seus pés mal tocaram o chão enquanto disparavam em direção ao carro. Para qualquer observação, Andrew parecia apenas um borrão, um vulcão de pura velocidade. Antes que a primeira criança pudesse sequer gritar, ele já estava entre elas e o veículo , seus músculos tensos como cabos de aço.

O impacto foi brutal.

A lataria do sedã amassou contra as palmas de suas mãos, os pneus cantaram contra o asfalto, a inércia do carro deveria tê-lo lançado pelos ares, mas Andrew não se moveu um centímetro . Seu corpo absorveu toda a força do impacto como se fosse uma parede indestrutível. Os olhos do motorista estavam arregalados de espanto.

Silêncio absoluto.

Por um momento, tudo ao redor pareceu congelar.

Então, os gritos começam.

— O QUE?! — um dos professores balbuciou, deixando sua prancheta cair no chão.

— Vocês viram isso? Como ele…?! — um aluno apontanto para Andrew, incapaz de processar o que havia acontecido.

As crianças que estavam prestes a serem atropeladas caíram sentadas no chão, olhando para Andrew com puro assombro. Uma garotinha de tranças segurava um ursinho de pelúcia contra o peito e chorava baixinho.

Andrew recuou lentamente, as mãos tremendas. Ele olhou ao redor, sentindo manchas de olhos fixos nele.

— Andrew? — a voz trêmula de Sofia, sua colega de classe, que estava perto o suficiente para ver tudo. — Como… Como você fez isso?

Ele abriu a boca para responder, mas não havia palavras. Seu coração disparava.

Sem dizer nada, Andrew girou nos calcanhares e correu.

Ele correu sem olhar para trás, cortando as ruas de Cosmópolis em velocidade absurda, os postes e prédios se transformando em borrões indistintos. Sentia o peito apertado, o ar queimando em seus pulmões. Ele havia sido exposto. Algo que sua mãe sempre o avisou para nunca fazer.

Chegando em casa, escancarou a porta da frente e caiu de joelhos no tapete da sala, respirando pesadamente. Luíza, que estava na cozinha, largou o pano de prato e correu até ele.

— Andrew?! O que aconteceu?

Ele balançou a cabeça, seus olhos arregalados e cheios de medo.

— Mãe… Eles viram.

Luíza congelou.

— O quê? — sua voz saiu quase numa frase.

— Eu parei um carro. Na frente da escola. Todo mundo viu.

O sangue de Luíza gelou. Seu coração acelerou, e ela sentiu a respiração ofegante. O que mais temia havia acontecido.

Ela segurou os ombros do filho, seu olhar sério e intenso.

— Você tem que me contar tudo. Agora.

Andrew respirou fundo, tentando sorrir, mas sabia que nada voltaria a ser como antes.

Naquele momento, a verdade que sua mãe sempre escondeu estava prestes a ser revelada.

— Eu sei que tem algo diferente comigo, mãe. E eu preciso saber a verdade.

Luíza suspirou. O momento que temia havia chegado.

— Filho… Está na hora de você saber tudo sobre o que aconteceu com seu pai… e o que isso significa para você.

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