O escritório de Leon Cavalieri estava no topo de um arranha-céu imponente, suas enormes janelas revelando a cidade abaixo como um tabuleiro de xadrez. O ambiente era luxuoso, mas impessoal, como um cenário criado para demonstrar poder e controle.
Ele, um dos magnatas mais influentes do país, estava sempre imerso nos negócios, na política e em todo o jogo que movia as engrenagens do mundo corporativo. Homem de olhar gélido e mente afiada, Leon Cavalieri não era conhecido por sua generosidade — mas por sua habilidade em manobrar, manipular e obter sempre o que queria. Seu império, o Grupo Cavalieri, um conglomerado empresarial brasileiro, atua em diversos setores como construção, energia, química e petroquímica e controla a maior rede de comunicação do país, a Rede Global, e os mais avançado laboratório privado científico da américa latina, a CIETEC. Para ele, o poder era algo que deveria ser guardado e administrado com mão firme.
Sentado atrás de uma mesa de mogno, Leon folheava documentos com uma calma que mais parecia desdém. Seu traje sempre impecável e seu rosto impassível eram uma extensão de sua personalidade — sem espaço para fraquezas. Mas nada, nem mesmo o seu império, era capaz de controlar o furor de seu filho, Wagner.
Wagner Cavalieri, estava parado na porta, observando o pai com um misto de raiva e curiosidade. O terno caro que vestia parecia fora de lugar em sua postura rebelde. Ele odiava estar ali, no centro de um mundo que nunca escolheu, mas não podia ignorar a sensação de que havia algo mais, algo obscuro, que o pai escondia. Mas Wagner não queria o trono corporativo — queria a verdade. Apaixonado pelo jornalismo investigativo, ele sonhava em descobrir os segredos que seu pai guardava sob sete chaves. A verdadeira razão pela qual a vida de sua mãe havia se perdido na escuridão do passado.
Leon, sem sequer levantar os olhos, finalmente quebrou o silêncio.
– Wagner, você sabe por que está aqui. – disse com uma voz grave, sem emoção.
Wagner cruzou os braços, seu olhar desafiador penetrando a figura autoritária à sua frente. Ele não se moveu. Não precisava. Aquela cena era sempre a mesma — e ele sabia de cor como ela acabaria.
– Imagino que seja mais uma das suas tentativas de me enfiar nesse império que eu nunca pedi para herdar. – respondeu com um sorriso irônico, demonstrando o quanto estava distante daquilo.
Leon finalmente olhou para o filho, seu olhar firme e implacável. Ele largou os papéis e se inclinou ligeiramente para frente, uma postura que indicava que estava prestes a passar a sua sentença.
– Não se trata de um pedido. É uma ordem. Você é um Cavalieri. Isso tudo é seu por direito.
Wagner soltou uma risada amarga, sem humor. Ele queria se afastar de tudo aquilo, da frieza do pai, dos negócios que não tinham significado algum para ele. Para Leon, tudo girava ao redor do poder e do controle. Mas Wagner sabia que ele jamais seria parte desse jogo.
– "Direito"? Direito de quê? De me tornar um peão no seu jogo de poder? Prefiro viver minha própria vida.
Leon se levantou lentamente e foi até a janela, como se fosse o comandante de um exército observando o campo de batalha. Ele olhou para a cidade abaixo, sua voz reverberando com o peso da autoridade que sempre carregou.
– Você fala como se pudesse fugir do que é. O nome Cavalieri carrega peso, Wagner. Nosso grupo controla a maior rede de comunicação do país. Laboratórios que moldam o futuro da ciência. O poder real não está nas ruas ou na ilusão de liberdade. Ele está aqui, nas decisões que moldam o mundo.
As palavras de Leon cortaram o ar, mas Wagner sentia uma revolta crescente dentro de si. Ele não queria aquilo. Não queria o império do pai, não queria as manipulações, os jogos de poder. Ele queria algo mais. Ele queria a verdade. E a verdade, para ele, estava escondida em algum lugar no passado de sua mãe.
– O poder que você usa para manipular, né? Para esmagar quem ousa desafiar sua visão de “futuro”. – Wagner disse, os punhos apertados, o sangue fervendo.
Leon virou-se lentamente, com um sorriso cínico nos lábios, como se tudo fosse apenas um jogo para ele.
– Manipular? Não seja ingênuo. O mundo é dos fortes, Wagner. Os fracos só existem para serem peças no jogo.
Wagner não recuou. Ele avançou, sem medo, encarando o pai com o olhar mais firme que jamais tivera. A raiva era visível, mas ele sabia o que tinha de fazer. Precisava ir mais fundo, precisava fazer a pergunta que estava queimando em sua mente há anos.
– É isso que aconteceu com minha mãe, né? Ela viu quem você realmente era e tentou escapar.
O silêncio se instalou na sala como uma sombra, e por um momento, o rosto de Leon perdeu qualquer vestígio de controle. Ele apertou a borda da mesa com força, seus olhos agora sombrios e perigosos.
– Você não sabe do que está falando.
Wagner sabia que ali estava a chave para tudo. O segredo que Leon tentava esconder. Ele não tinha mais medo. Queria saber a verdade, não importa o quanto fosse dolorosa.
– Sei que ela fugiu de você. Sei que você fez de tudo para apagar a história dela. Mas o que realmente aconteceu, pai? O que você esconde?
Leon fechou os olhos por um momento, sua postura ainda firme, mas sua expressão agora mais sombria do que nunca. Quando os abriu, a frieza estava de volta, e sua voz era tão gelada quanto o olhar que lançava no filho.
– Algumas verdades são perigosas demais, até para você.
Wagner estreitou os olhos, não satisfeito. Ele não aceitaria uma resposta tão vazia. Ele precisava de mais.
– Isso não é uma resposta.
Leon, finalmente, se recostou na cadeira, retornando à sua postura autoritária, o tom de sua voz calmo, mas com uma ameaça implícita.
– E é tudo o que você terá.
Wagner soltou um riso amargo, e sem mais palavras, se virou para a porta. Ele sabia que não conseguiria mais nada ali. O que procurava não estava naquele escritório, mas ele iria atrás da verdade, custasse o que custasse.
– Eu vou descobrir, com ou sem sua permissão.
Ele saiu com um estrondo da porta, deixando Leon para trás, seus olhos fixos no vazio, enquanto a tensão na sala se intensificava. A guerra entre pai e filho estava apenas começando, e Wagner estava mais determinado do que nunca a encontrar as respostas que o pai tão desesperadamente tentava esconder.

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