CARCARÁ - Momentos Compartilhados - T1/E2

 


O campus da PUC-Rio estava tranquilo naquela tarde, com os estudantes aproveitando os últimos raios de sol antes de se prepararem para mais uma rodada de provas e aulas. Wagner e Vivian caminhavam lado a lado, as mãos quase se tocando, mas ainda com a delicadeza de quem explora os primeiros momentos do amor.

Vivian, com seus longos cabelos castanhos e o sorriso leve que encantava todos ao redor, olhava para Wagner com carinho. Ele, por sua vez, tinha um semblante preocupado, os olhos voltados para o horizonte, como se o futuro lhe pesasse nos ombros. Mesmo com a presença de Vivian, que sempre o acalmava, as sombras do seu passado eram difíceis de ignorar.

Você está tão distante... – Vivian disse, inclinando-se um pouco mais para ele, sua voz suave, mas com um toque de preocupação. – O que aconteceu?

Wagner respirou fundo, seus olhos finalmente se voltando para ela. Era difícil falar sobre isso, mas ele sentia que estava na hora de contar.

É meu pai... – ele começou, com a voz um pouco mais ríspida do que pretendia. – Ele me sufoca com essa ideia de império, de controle... – Ele balançou a cabeça, frustrado. – Eu não sou uma peça no tabuleiro dele, mas ele insiste. Não sei se ele alguma vez viu mais do que o futuro dos negócios em mim.

Vivian olhou para ele com ternura, tocando sua mão, tentando transmitir um pouco de conforto através daquele simples gesto.

Mas... o que te faz tão incomodado com isso? Não é normal que pais queiram que seus filhos sigam seus passos? – ela perguntou, buscando entender, mas sem julgá-lo.

Wagner deu um sorriso triste, um pouco forçado, e olhou para o chão por um momento. O peso das palavras era grande demais.

Não... não é normal. Porque o meu pai, Vivian, não é só isso. Eu não cresci vendo ele como um pai, sabe? Ele sempre foi o líder de um império, o cara que manipula tudo ao redor dele. A minha mãe... ela tentou fugir disso. Tentou sair do mundo dele. E no final, ela... ela se foi e nunca mais voltou.

O silêncio se instalou entre os dois. Vivian, tocada pela confissão, parou de caminhar por um instante, olhando-o com os olhos cheios de empatia. Ela sabia que, por trás da fachada de rebeldia de Wagner, havia uma dor profunda que ele nunca compartilhara totalmente.

Você nunca me contou sobre isso antes... – ela disse baixinho.

Wagner deu um meio sorriso, tentando suavizar a tensão.

É, eu sei... Mas eu não queria te preocupar com isso. Não sabia como explicar... Como dizer que minha mãe saiu de casa e nunca mais voltou. Que o que ela tentou fazer... deu errado. – Ele pausou por um momento. – Ela não me deixou uma carta. Não me disse nada. Só sumiu. E ele... – Wagner fez uma pausa, a voz falhando um pouco, como se estivesse se forçando a segurar as palavras que ainda não estavam prontas para serem ditas. – Meu pai nunca falou sobre isso. Apenas diz que ela foi fraca, que ela era frágil demais para entender a grandeza da nossa família.

Vivian sentiu o peso das palavras. O silêncio entre os dois era denso, mas ela sabia que ele estava se abrindo de uma maneira que nunca fizera antes. A dor, a raiva e o desamparo estavam ali, à flor da pele. Ela segurou sua mão com mais força, puxando-o levemente para si.

Wagner... eu... – Ela hesitou, buscando as palavras certas. – Eu estou aqui. Você não precisa carregar tudo isso sozinho, sabe? Eu entendo que o passado ainda te machuca, mas... – Ela sorriu, tentando aliviar o peso que ele carregava. – Eu amo você, e juntos, nós vamos superar qualquer coisa.

Ele a olhou, o olhar de Wagner suavizando ao ouvir suas palavras. Ele sorriu, agora de forma mais genuína, e puxou Vivian para um abraço apertado. Ela não precisava mais dizer nada, pois as palavras já estavam ali, expressas no toque, no carinho que envolvia aquele momento.

Eu sei... – Wagner murmurou, com a voz baixa. – Eu sei que posso contar com você, Vivian. E talvez... talvez a verdade esteja mais perto do que eu imagino. – Ele olhou para ela, com um brilho novo nos olhos. – Falta um ano para nos formarmos. Um ano... – Ele respirou fundo, sentindo-se mais leve ao dizer isso. – Eu vou descobrir a verdade. E quando eu descobrir, vai ser a última coisa que ele pode controlar.

Vivian sorriu e se afastou levemente para olhar nos olhos de Wagner, o sorriso iluminando seu rosto. O sol estava se pondo, tingindo o céu com uma luz suave que fazia seus olhos brilhar.

E eu estarei ao seu lado, Wagner, sempre... – Ela disse, o coração batendo mais forte.

Wagner a beijou, sentindo o calor dela transbordar para ele, afastando por um instante todas as suas dúvidas, todas as suas inseguranças. Ele sabia que, com Vivian ao seu lado, ele era capaz de enfrentar qualquer coisa. Eles estavam no mesmo time, e juntos, poderiam enfrentar os fantasmas do passado e qualquer desafio que o futuro trouxesse.

Aquele momento, ali, no campus tranquilo da PUC-Rio, parecia perfeito. E, por um instante, Wagner sentiu que a verdade e o amor poderiam, sim, coexistir.


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