Supremum - Luz Após o Impacto - T2/E20

 


DEZENOVE  ANOS ATRÁS
Laboratório subterrâneo, localização desconhecida. Poucos meses após o acidente nuclear.

As luzes frias do laboratório refletiam nas superfícies metálicas como estrelas num céu morto. Cabos, tubos, telas holográficas e reatores pulsavam com energia instável. No centro da sala, o Dr. Joseph Menning — agora conhecido apenas como Doutor Jota — manipulava concentradores nucleares com precisão mecânica, olhos fixos, expressão vazia.

Atrás dele, envolto por sombras densas como fumaça viva, Senhor Espectro observava. Seus olhos — dois buracos profundos de um vazio antinatural — brilhavam em tom arroxeado. Sua presença fazia o próprio ar pesar. Cada palavra sua escorria com uma calma serpentina, hipnótica.

— “Você está indo bem, Jota… o próximo módulo deve estar pronto em 72 horas.”

— “Sim, Senhor Espectro,” respondeu Joseph, a voz sem emoção, os dedos movendo-se como marionetes.

Senhor Espectro aproximou-se lentamente, sua mão espectral tocando de leve a nuca de Joseph, um gesto quase delicado — mas carregado de dominação absoluta. O campo psíquico entre eles pulsava em ondas invisíveis. Joseph, gênio entre gênios, agora era apenas uma ferramenta.

— “A ciência sem consciência é a arma mais poderosa... E você, meu caro, é a lâmina perfeita.”

Joseph piscou devagar. Lá no fundo, em algum canto quase apagado da sua mente, uma memória queria emergir — o rosto de uma mulher, o som de uma risada infantil, um nome... Luíza... mas era abafado por uma nuvem densa de ordens implantadas.

Senhor Espectro sorriu, vitorioso. Ele tinha o que queria: controle sobre o homem que dominava os segredos do núcleo da matéria.


UM ANO ATRÁS
Acampamento nas montanhas, noite fresca e estrelada.

A floresta sussurrava segredos antigos entre as copas das árvores. O crepitar da fogueira lançava sombras ondulantes nos rostos jovens e ansiosos. Andrew, Paulo, Isadora e Camila estavam mais relaxados do que há semanas. Entre s’mores e histórias engraçadas, parecia apenas uma pausa entre provas e noites mal dormidas.

Até que Andrew se levantou, olhos distantes. A tensão no ar mudou.

— “Quero mostrar algo a vocês...”

E então veio o momento. A revelação. O voo suave, os olhos brilhando em verde, o raio de energia pulverizando uma pedra à distância.

— “Você... voa. E solta laser pelos olhos. Isso é tipo... sei lá o que isso é,” murmurou Camila.

Andrew contou tudo. Seus dons. A origem. O acidente nuclear. O segredo de sua mãe.

Na copa das árvores próximas, algo zunia em silêncio. Um drone minúsculo, esférico, quase invisível, observava a cena. Seus sensores vibravam. Suas lentes giravam, gravando tudo.

No laboratório subterrâneo, Doutor Jota parou repentinamente. Estava construindo uma nova câmara de contenção para plutônio instável, quando o sinal do drone ecoou em sua mente como um estrondo.

O visor projetou uma imagem: Andrew, flutuando. Os olhos verdes brilhando.

A mente de Joseph tremeu.
Um pensamento emergiu do vazio, como um raio rompendo a neblina.

“O filho de Joseph Menning.”

Foi um erro. Uma distração involuntária de Senhor Espectro. Por um segundo, seus pensamentos e os de Joseph se fundiram — e ali, Joseph leu a verdade:
Andrew era seu filho. O filho de Joseph Menning.

A dor foi como um golpe. Joseph caiu de joelhos. Imagens de Luíza, do nascimento de Andrew, da infância perdida... tudo rompeu o véu da dominação. Gritou, com a alma. A prisão mental ruiu.
E então, ele soube: precisava encontrá-lo.


TEMPO PRESENTE

Ruínas do campo de batalha. O céu ainda com fumaça cinza.

O chão estava marcado por crateras. Torres destruídas, restos de tecnologia negra espalhados como esqueletos metálicos. No centro, cercado pelo silêncio do pós-guerra, Andrew Menning olhava para a figura diante de si.

Joseph Menning.

Seu rosto era familiar, mas marcado. Mais magro, o cabelo grisalho, os olhos cansados... mas vivos. Humanos. Finalmente livres.

— “Andrew...” a voz de Joseph falhou. “Eu sou... eu sou seu pai.”

Andrew ficou paralisado. O mundo pareceu suspenso.

— “Meu Pai? Meu pai morreu no acidente,” disse ele, confuso. “Minha mãe... ela—”

— “Eu sobrevivi. Ou melhor... fui mantido vivo. Senhor Espectro me levou. Usou meu corpo, minha mente, meus conhecimentos. Fui escravizado mentalmente por anos. Eu... não sabia quem eu era, até pouco tempo atrás. Até ver você. Até sentir você.”

Os olhos de Andrew marejaram, mas ele segurou as emoções.

— “Por que só agora? Por que nunca tentou voltar?”

— “Porque eu estava apagado. Enterrado sob outra consciência. Só me libertei quando senti você. E agora... agora que sou eu novamente, preciso pedir perdão.”

Joseph se aproximou. Seus olhos se encontraram — pai e filho, partidos pelo tempo, ligados pelo sangue e pela dor.

— “Me perdoa.”

Andrew respirou fundo. Seus punhos se abriram lentamente. E então, ele deu um passo adiante e abraçou o pai com força.

— “Eu... senti sua falta. Mesmo sem saber.”

Silêncio. Apenas o som do vento entre os destroços.

— “Ainda não posso voltar, Andrew”, diz Joseph, afastando-se com pesar. “Há muitos erros que preciso consertar. Vidas que ajudei a arruinar… preciso tentar reparar. Por isso… não diga nada à sua mãe. Por favor.”

Andrew aperta os punhos.

— “Ela merece saber. Nós… merecemos você de volta!”

— “E ela saberá. Mas por mim. Na hora certa. Por enquanto… cuide dela. Como eu não pude.”

Com um último olhar, Joseph ativa o teletransportador que absorve sua forma em luz verde e o leva embora.

Andrew cai de joelhos. Em silêncio.


Destroços da batalha, mas a frente.

Kira, sentada entre os destroços, chorava baixinho. Andrew a encontra. Os olhos dela carregam dor e alívio.

— “Acabou?”, pergunta, quase sem voz.

Andrew a ajuda a levantar.

— “Acabou. Nós vencemos.”

— “Mas a que preço…”

— “O Preço foi alto, mas nós e nossos amigos estamos vivos. E isso… já vale tudo.”

Juntos, caminham até encontrar Samuel, Paulo, Isadora e Camila, que os aguardam exaustos, mas inteiros. Quando Andrew e Kira se aproximaram, o silêncio virou euforia. Abraços. Risos contidos. Lágrimas.

— “Acabou, mano”, disse Paulo, emocionado. “A gente venceu.”

Andrew olhou para todos e sorriu.

— “Sim. Vencemos. E o mundo... não tem ideia do quanto deve a vocês.”


TRÊS ANOS DEPOIS – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, CAMPUS DO LARGO SÃO FRANCISCO 

Auditório da Universidade. O nome é chamado ao microfone:

— “Andrew Menning!”

Aplausos. Ele sorri e sobe ao palco, vestindo a beca. Ao lado, Paulo e Isadora o aguardam para a tradicional foto. Uma semana antes, fora a vez de Camila, agora médica. E um ano antes, Kira se formara em Psicologia, e Samuel, o Número Seis, em Física.

Todos estavam ali, família e amigos. Rindo. Bebendo. Brindando.

— “Eu ainda acho que o Paulo colava,” disse Camila, rindo.

— “Eu tinha cola, sim: Andrew e Isadora,” respondeu ele, piscando.

— “Mas a cola que grudou a gente foi outra,” disse Kira, emocionada. “Foi confiança.

Andrew levanta seu copo.

— “A nós. Porque, juntos, superamos tudo.”

— “E nunca deixamos de ser quem somos”, completa Camila.

Eles brindaram. O sol começava a se pôr, e ninguém mencionou o passado. Não falaram em poderes, batalhas, traumas. Apenas viveram aquele instante como jovens que venceram o impossível — e permaneceram juntos. 

Andrew observou cada um deles. Sentia-se completo. Ainda não sabia o que viria a seguir. Mas sabia que não enfrentaria nada sozinho. 


DIAS DEPOIS – COSMÓPOLIS/SP

O portão rangeu com um leve clique. Um homem parou diante da casa de tijolos claros, cercada por roseiras bem cuidadas. Estava nervoso. Suas mãos tremiam levemente. O rosto, envelhecido, tinha olhos profundos, marcados por saudade e remorso.

A porta se abriu. Uma mulher de meia-idade, de cabelos castanhos e olhos atentos, surgiu no batente.

Ela o encarou, confusa. Os segundos arrastaram-se.

— “Joseph?”, ela disse, num sussurro.

Ele engoliu seco. Um leve sorriso curvou seus lábios.

— “Eu voltei, Luíza.”


FIM DA SEGUNDA TEMPORADA

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