Supremum - O Peso do Segredo -T1/E4

 


A manhã seguinte ao quase acidente de Andrew parecia normal, mas o colégio inteiro ainda falava sobre o que tinha acontecido. No pátio, durante o intervalo, ele caminhava ao lado de Paulo quando ouviram a conversa animada de alguns colegas.

— Cara, eu juro que pensei que você ia virar história — disse Lucas, gesticulando exageradamente. — Aquele carro tava muito rápido!

— Foi surreal! — concordou Mariana. — Eu tava bem na frente, vi tudo. Mas, de repente, o carro simplesmente parou. Como assim?

Andrew manteve a expressão calma, mas por dentro, sentia um frio no estômago. Não podia demonstrar nada.

— Acho que o motorista pisou no freio no último segundo. Sei lá, foi sorte — disse ele, dando de ombros.

Paulo, que estava ao seu lado, cruzou os braços e franziu a testa.

— Estranho… O motorista falou que nem teve tempo de reagir.

— Já pensaram que pode ter sido tipo… destino? — Mariana sugeriu, animada.

Lucas riu. — Ou poderes secretos?

Andrew forçou um sorriso, tentando parecer descontraído.

— Se eu tivesse poderes, usaria pra colar nas provas de química.

Os amigos riram e começaram a falar de outra coisa, mas Paulo ainda parecia pensativo. Ele não insistiu no assunto, mas a desconfiança ficou plantada.


Dois Anos Depois – O Momento da Verdade

O tempo passou. Andrew e Paulo continuaram inseparáveis, mas aquela dúvida nunca saiu da cabeça de Paulo. Ele nunca teve provas concretas, apenas um sentimento de que seu melhor amigo escondia algo.

Faltavam poucos dias para a formatura do ensino médio. A turma estava organizando um evento no ginásio, e Andrew e Paulo ficaram até mais tarde ajudando com os últimos ajustes.

O céu escurecia rapidamente. O vento começou a uivar lá fora, e trovões ecoavam à distância.

— Beleza, já ajeitamos as cadeiras. Mais alguma coisa? — perguntou Paulo, cansado.

— Só precisamos revisar a decoração — respondeu Andrew, verificando os cartazes pendurados.

Foi quando o estrondo aconteceu.

Uma rajada de vento sacudiu o ginásio, fazendo tremer as estruturas metálicas do teto. O barulho seco de metal rangendo encheu o ambiente, e antes que pudessem reagir, uma viga se desprendeu e começou a despencar — direto sobre Paulo.

Andrew nem pensou. Seu corpo se moveu instintivamente, mais rápido do que qualquer ser humano deveria ser capaz. Ele cruzou a quadra em um piscar de olhos e estendeu a mão.

Com um único movimento, segurou a viga no ar, impedindo que esmagasse seu amigo.

O silêncio caiu sobre o ginásio.

Paulo, ainda ofegante, olhou para cima, sem acreditar no que via. Andrew segurava o metal pesado com apenas uma mão, sem esforço aparente.

Os dois se encararam.

— Você… — Paulo tentou falar, mas a palavra ficou presa na garganta.

Andrew soltou a viga no chão com um estrondo ensurdecedor. Seu coração batia acelerado, mas não era pelo esforço. Era porque sabia que, depois de anos escondendo seu segredo, alguém finalmente tinha descoberto.

— Eu… só tive reflexos rápidos — disse, tentando minimizar.

Paulo deu um passo à frente, ainda atônito.

— Rápidos?! Cara, você se moveu como um raio! E segurou essa coisa com uma mão!

Andrew baixou a cabeça. Não adiantava mais mentir.

— Escuta, eu preciso que você me prometa… ninguém pode saber disso.

Paulo piscou algumas vezes, assimilando tudo. Então, inspirou fundo e olhou diretamente nos olhos de Andrew.

— Você salvou minha vida… Acha mesmo que eu contaria?

Andrew sentiu um alívio imediato, mas a preocupação ainda estava ali.

— Eu nunca quis que ninguém descobrisse. Isso… pode mudar tudo.

Paulo ficou em silêncio por um instante, então sorriu de canto.

— Você confia em mim?

Andrew hesitou por um segundo, depois assentiu.

— Claro que sim.

Paulo sorriu e deu um leve soco no ombro do amigo.

— Então relaxa. Seu segredo tá seguro comigo.

Lá fora, a tempestade rugia com força, mas dentro do ginásio, a amizade entre os dois nunca esteve tão forte.


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