Na manhã seguinte, Andrew pedalava sua bicicleta pelas ruas tranquilas de Cosmópolis. O sol nascente pintava o céu de tons alaranjados, mas sua mente estava longe dali. Ele tentava organizar os pensamentos sobre tudo o que havia acontecido. O encontro com os homens armados, as investigações suspeitas sobre o Grupo Cavalieri e, agora, a mensagem enigmática de Paulo na noite anterior.
Ele parou em frente à casa do amigo, uma construção térrea com um pequeno jardim bem cuidado. Tocou a campainha e logo foi recebido por Paulo, que o puxou rapidamente para dentro, fechando a porta atrás de si.
— Bom dia pra você também — Andrew disse, arqueando uma sobrancelha.
Paulo olhou para os lados, certificando-se de que estavam sozinhos.
— Meu pai saiu cedo para uma operação. Minha mãe está dando aula. Temos a casa só pra gente.
— Você falou como se estivéssemos prestes a cometer um crime.
— Talvez a gente esteja.
Andrew cruzou os braços.
— E por que eu vim até aqui às pressas? O que você descobriu?
Paulo ligou o notebook na mesa da sala e puxou um pen drive do bolso.
— Ontem, depois de te deixar em casa, não consegui dormir. Fiquei pensando naquelas movimentações suspeitas do Grupo Cavalieri. Então resolvi dar uma olhada nos arquivos do meu pai.
Andrew arregalou os olhos.
— Você invadiu os arquivos do seu pai?!
— Tecnicamente, eu só aproveitei que ele esqueceu o computador logado.
Andrew suspirou, passando a mão no rosto.
— Isso pode dar uma merda gigantesca…
— Relaxa, eu só copiei algumas coisas e deletei os rastros. Mas olha isso! — Paulo conectou o pen drive ao notebook.
Na tela, vários documentos e relatórios policiais apareceram. Alguns tinham tarjas de sigilo, outros eram apenas transcrições de depoimentos. Mas um detalhe chamou atenção: várias dessas investigações estavam relacionadas a uma organização chamada Tentáculos.
— “Tentáculos”? — Andrew franziu a testa. — Nunca ouvi falar.
— Eu também não. Mas olha isso. — Paulo clicou em um dos arquivos. — São registros de movimentações financeiras que meu pai estava analisando. Aparentemente, essa Tentáculos tem gente infiltrada em empresas grandes, órgãos do governo… e, adivinha só, até no Grupo Cavalieri.
Andrew se inclinou para ler melhor. Os números e códigos bancários eram confusos, mas uma coisa era clara: havia dinheiro sendo movimentado para contas offshore, empresas de fachada, tudo muito bem encoberto.
— Isso explica as transferências suspeitas que a gente encontrou antes… — Andrew murmurou.
Paulo assentiu.
— Sim. E tem mais. Essa organização já está na mira da polícia há um tempo, mas sempre escapam. São discretos, cuidadosos. E perigosos.
Andrew sentiu um arrepio na espinha.
— Então pode ser por isso que aqueles caras vieram atrás da gente. Se mexemos em algo que envolvia a Tentáculos…
— Exatamente. E agora sabemos que essa coisa é muito maior do que imaginávamos.
Antes que pudessem continuar analisando os arquivos, ouviram o barulho de um carro parando na garagem.
— Droga! Meu pai! — Paulo sussurrou, puxando o pen drive e desligando o notebook.
Andrew se levantou rapidamente.
— Como ele voltou tão cedo?
— Sei lá, mas precisamos esconder isso!
Os dois correram para a cozinha, tentando agir naturalmente. Um segundo depois, a porta se abriu e o Investigador Roberto Farias entrou. Um homem robusto, de expressão séria, com olhos afiados que captavam cada detalhe ao redor. Ele parou por um momento ao ver Andrew ali.
— Ah, você está aqui, Andrew. Bom dia.
— Bom dia, senhor Farias.
Carlos caminhou até a geladeira e pegou um copo d’água.
— O que vocês estavam fazendo?
Paulo sorriu, tentando parecer tranquilo.
— Só estudando pra faculdade. Nada demais.
Carlos lançou um olhar desconfiado.
— Estudando um sábado de manhã?
— A gente quer se adiantar, né? Faculdade de Direito não é fácil…
O investigador estreitou os olhos. Andrew manteve a expressão firme, tentando não demonstrar nervosismo.
— Hm… bom, é bom ver que estão focados. Mas nada de ficar mexendo onde não devem, entenderam?
— Claro, pai — Paulo respondeu rapidamente.
Carlos terminou a água e saiu para o quarto. Assim que a porta se fechou, os dois soltaram o ar ao mesmo tempo.
— Ele suspeitou de alguma coisa — Andrew sussurrou.
— Meu pai sempre suspeita de tudo. Mas pelo menos conseguimos disfarçar.
Andrew olhou para o pen drive ainda na mão de Paulo.
— Precisamos descobrir mais sobre essa Tentáculos.
Paulo assentiu.
— E vamos. Mas a partir de agora, temos que ser muito mais cuidadosos.
Aquela investigação já era perigosa antes, mas agora tinham a confirmação de que estavam mexendo com algo gigantesco. E a sensação de que estavam sendo observados era cada vez mais forte.
— Se essa Tentáculos está infiltrada em grandes empresas e no governo… — Andrew disse, pensativo. — Quem mais pode estar envolvido?
Paulo encarou o amigo.
— Essa é a pergunta que vamos responder.
E eles estavam prestes a descobrir que a resposta era muito pior do que imaginavam.
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