Supremum - O Limite da Cautela -T1/E17

 


O carro de Paulo parou suavemente em frente à casa de sua família. Era uma construção discreta, com um jardim bem cuidado e janelas iluminadas pela luz quente do interior. Andrew e Isadora trocaram olhares antes de descer.

— Lembrem-se — Paulo sussurrou enquanto destrancava a porta — a gente só tem uma chance.

Andrew respirou fundo.

— Sem pressão, né?

Eles entraram. O cheiro de café fresco e o som distante de um noticiário indicavam que Roberto, o pai de Paulo, investigador da Polícia, ainda estava acordado. Ele surgiu no corredor, um homem alto, de expressão séria e olhar sempre analítico.

— Paulo? Não sabia que ia trazer visitas essa hora.

Paulo sorriu com naturalidade.

— Foi de última hora, pai. A gente queria conversar sobre algumas coisas da faculdade. Ah, essa é Isadora, amiga nossa.

O olhar afiado de Roberto pousou em Isadora, que forçou um sorriso.

— Ah, prazer, senhor Farias! O Paulo sempre fala muito bem do senhor.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— É mesmo?

Paulo pigarreou.

— Pai, posso pegar uma água?

— Você mora aqui, Paulo. Não precisa pedir permissão.

— Beleza, valeu!

Ele puxou Andrew discretamente pelo braço e os dois sumiram pelo corredor. Isadora ficou para trás, respirando fundo enquanto o investigador cruzava os braços.

— Então, Isadora… O que exatamente o Paulo fala sobre mim?

Ela sorriu, tentando parecer casual.

— Ah, ele admira muito o seu trabalho. Diz que o senhor já resolveu casos muito difíceis.

Os olhos de Roberto brilharam.

— É mesmo? Bom, tive algumas investigações interessantes ao longo dos anos…

Isadora rapidamente engatou a conversa.

— Nossa, deve ser incrível! Tem algum caso que o senhor goste mais de contar?

Roberto Farias relaxou e puxou uma cadeira, começando a narrar uma de suas investigações. Enquanto isso, Paulo e Andrew estavam na biblioteca do escritório, onde ficava o computador do investigador.

— Tá trancado, óbvio — murmurou Paulo, mexendo no teclado.

— Você sabe a senha do seu pai?

— Claro que não. Mas sei que ele anota tudo no bloco de notas.

Andrew olhou incrédulo.

— Um investigador da Polícia Civil anota senhas?

Paulo deu de ombros.

— Velha guarda, meu amigo.

Ele começou a abrir gavetas rapidamente, revirando papéis e cadernos até encontrar um pequeno post-it preso na parte de dentro do móvel.

— Sabia!

Ele digitou os números e a tela destravou.

— Ok, agora vamos procurar qualquer coisa sobre a Tentáculos…

Os dois começaram a vasculhar arquivos e relatórios no sistema da Polícia Civil. Minutos depois, Paulo abriu um documento confidencial.

— Aqui! Tentáculos… tráfico de informações, ligação com empresas privadas… e olha isso. O Grupo Cavalieri é citado várias vezes!

Andrew se inclinou para ver melhor.

— Eles estavam sendo investigados?!

— Parece que sim… mas a investigação foi arquivada.

— Arquivada? Como assim?

Paulo rolou o documento até o final.

— O responsável pelo caso pediu sigilo total. O relatório diz que "por falta de provas concretas, as acusações não foram levadas adiante".

Andrew não gostou do que leu.

— Ou seja… alguém abafou tudo.

Antes que pudessem continuar, ouviram passos se aproximando.

— Droga! — sibilou Paulo, fechando os arquivos e desligando o monitor.

A porta se abriu. o pai de Paulo entrou, com um olhar suspeito.

— O que vocês dois estão fazendo aqui?

Andrew sentiu o coração acelerar.

Paulo, sem perder a calma, pegou um livro da estante e o ergueu.

— Só tava mostrando esse livro pro Andrew. Ele tava curioso sobre algumas coisas de investigação.

Roberto olhou para o livro e depois para os dois.

— Esse livro é sobre crimes financeiros.

Andrew improvisou.

— Sim! Eu e Paulo estávamos falando sobre corrupção e como essas investigações funcionam…

O investigador ainda parecia desconfiado.

— Hm… Certo. Mas se quiserem aprender sobre investigações, perguntem diretamente para mim.

Os dois assentiram rápido.

— Agora, vão dormir. Está tarde.

Assim que saíram do escritório, Andrew e Paulo trocaram um olhar aliviado.

Eles tinham escapado por pouco.

Mas agora, sabiam que estavam lidando com algo muito maior do que imaginavam.

E precisavam encontrar Camila antes que fosse tarde demais

Paulo e Andrew saíram do escritório tentando parecer o mais naturais possível. O investigador Farias ficou parado por um instante, observando os dois enquanto caminhavam até a sala. Ele não era bobo. Sentia quando alguém estava escondendo algo, mas, por ora, decidiu não pressionar.

Na sala, Isadora ainda conversava com Gisele, a mãe de Paulo, que sorria enquanto segurava uma xícara de café.

— Ah, aí estão vocês! — disse Isadora ao ver os dois.

Paulo percebeu o olhar atento de sua mãe e tentou soar despreocupado.

— A gente tava lá no escritório. Mostrei uns livros pro Andrew sobre investigações.

Gisele sorriu, mas seu olhar carregava um traço de desconfiança.

— Sempre investigando alguma coisa, né, Paulo?

— Curiosidade, mãe. Só isso.

Roberto surgiu na sala logo atrás deles, seu olhar afiado analisando cada detalhe.

— O que vocês estão sussurrando aí?

Todos se viraram ao mesmo tempo, tensos.

— Ah, nada, pai. — Paulo respondeu rápido. — A gente tava falando sobre um trabalho da Camila.

Roberto os analisou por alguns segundos, depois olhou para o celular de Camila na mão de Andrew.

— Devolva o celular para a dona, Andrew.

Andrew engoliu seco e entregou o aparelho. 

— Se vocês estiverem aprontando alguma coisa, melhor tomarem cuidado. O mundo é um lugar perigoso. Principalmente quando se mete o nariz onde não deve.

A tensão na sala ficou insuportável.

Roberto continuou os encarando por alguns segundos, até que Gisele interveio:

— Roberto, larga os meninos. Você tem essa mania de interrogar todo mundo.

Ele suspirou e relaxou um pouco.

— Só acho que vocês deviam ter mais cuidado. O mundo não é um lugar tão seguro quanto parece.

Os jovens trocaram olhares, sentindo o peso oculto das palavras dele.

— Bom, já tá tarde. — Paulo falou. — A gente já vai nessa.

Gisele sorriu e bagunçou o cabelo do filho.

— Se cuidem e nada de ficarem acordados até tarde fazendo besteira.

— Pode deixar, mãe. — Paulo respondeu, forçando um sorriso.

Ao saírem, Andrew lançou um último olhar para dentro da casa. Roberto ainda os observava, como se soubesse que eles estavam escondendo algo.

Assim que cruzaram o portão, Paulo soltou um suspiro longo.

— Isso foi por pouco.

Andrew olhou ao redor, como se esperasse ver alguém os observando da escuridão.

— Se ele já tá desconfiado, temos que ser mais cuidadosos.

— Sim... mas agora a gente tem algo importante. A Tentáculos e o Grupo Cavalieri estão conectados.

Isadora se aproximou.

— Isso significa que estamos mexendo com algo grande. Algo que pode ser perigoso.

Paulo assentiu, um brilho determinado nos olhos.

— E é exatamente por isso que precisamos descobrir a verdade.

Gisele, de dentro da casa, observava o filho e os amigos pela janela. A expressão em seu rosto mostrava preocupação.

Ela sentia que algo estava errado.

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