O vento frio da noite soprava pelas ruas enquanto Paulo, Andrew e Isadora caminhavam apressados. Eles precisavam encontrar Camila e entender por que ela sumiu tão de repente.
— Ela ainda não respondeu nenhuma mensagem. — murmurou Isadora, olhando para a tela do celular.
Paulo franziu a testa.
— Isso não é normal. A Camila pode até sumir por algumas horas, mas nunca sem avisar ninguém.
Andrew concordou, sua mente trabalhando rápido.
— E se isso tiver a ver com o que descobrimos?
O silêncio entre eles foi resposta suficiente. Era uma possibilidade assustadora, mas real.
De repente, o telefone de Isadora vibrou.
— É a Camila!
Ela atendeu rapidamente, colocando no viva-voz.
— Camila? Onde você tá? A gente tá preocupado!
A voz do outro lado da linha soou tensa e ofegante.
— Isadora… me escuta…
— O que aconteceu? Você tá bem?
— Eu… eu tô com problemas. Eu fui atrás de algo… eu achei que podia ajudar, mas agora…
A ligação cortou abruptamente.
— Camila?! — Isadora gritou para o telefone, mas não houve resposta.
Andrew cerrou os punhos.
— Ela tá em perigo.
Paulo pegou o celular e começou a mexer rápido.
— Vou tentar rastrear o último sinal do celular dela.
Isadora o olhou surpresa.
— Desde quando você sabe fazer isso?!
Paulo deu de ombros.
— Desde que comecei a desconfiar que meu pai rastreava o meu.
Andrew balançou a cabeça, mas não comentou.
Após alguns segundos, Paulo ergueu o celular.
— Última localização dela foi num galpão abandonado perto da Zona Industrial.
Isadora arregalou os olhos.
— O que diabos ela tava fazendo lá?!
Andrew respirou fundo.
— Não importa. Temos que ir agora.
Zona Industrial – 00:42 AM
O galpão parecia abandonado há anos. Janelas quebradas, paredes pichadas e o cheiro de ferrugem e óleo velho dominavam o ar.
Paulo estacionou o carro a uma certa distância.
— Não sabemos o que vamos encontrar lá dentro. Precisamos ter cuidado.
Andrew olhou para o prédio escuro à frente. Seu instinto gritava que algo estava muito errado.
— Vamos rápido.
Eles se aproximaram, tentando ser silenciosos. A porta lateral estava entreaberta.
— Isso não é um bom sinal. — murmurou Isadora.
Com um aceno de cabeça, Andrew empurrou a porta e entrou primeiro.
O interior do galpão era ainda mais sombrio do que parecia por fora. Pilhas de caixas velhas estavam espalhadas e luzes fracas piscavam no teto.
— Camila? — sussurrou Isadora.
Nenhuma resposta.
Paulo apontou para uma escada que levava a uma plataforma metálica acima.
— Talvez ela esteja lá em cima.
Eles subiram com cautela, cada degrau rangendo sob seus pés. Quando chegaram ao topo, encontraram algo que fez seus corações dispararem.
O celular de Camila estava no chão, ainda com a tela acesa.
— Droga… isso é muito ruim. — disse Paulo.
De repente, um som veio do andar de baixo.
Passos.
E não eram poucos.
Andrew se virou rapidamente. Do chão, sombras começaram a se mover.
Eles não estavam sozinhos.
— Corram! — Andrew gritou.
Mas já era tarde demais.
Homens encapuzados surgiram das sombras, cercando os três.
E agora, eles estavam em sérios apuros.
Os homens encapuzados avançavam lentamente, bloqueando qualquer possível saída. Andrew, Paulo e Isadora se entreolharam, sentindo a tensão no ar. O cheiro de óleo e ferrugem parecia ainda mais forte agora, misturado à ameaça iminente que os cercava.
— Acho que fizemos uma péssima escolha vindo pra cá… — murmurou Paulo.
— Sem dúvida. — respondeu Andrew, cerrando os punhos.
O que quer que estivesse acontecendo ali, eles haviam se metido no meio.
Um dos homens, alto e de porte robusto, deu um passo à frente. Sua voz era firme, sem emoção.
— Vocês não deveriam estar aqui.
Isadora tentou esconder o nervosismo e manteve a voz firme.
— Cadê a Camila?! O que vocês fizeram com ela?!
O homem ignorou a pergunta.
— O que sabem sobre esse lugar?
Paulo riu nervoso.
— Ah, quase nada. Só que a nossa amiga sumiu e o celular dela tá aqui. O que é estranho, né?
Andrew avaliou a situação. Eles estavam cercados, mas os capangas ainda não haviam atacado. Talvez houvesse uma chance de sair dali sem confronto.
— Não queremos problemas. Só queremos nossa amiga de volta.
O homem encapuzado cruzou os braços.
— Tarde demais pra isso. Agora que viram esse lugar, não vão sair tão fácil.
Antes que alguém pudesse reagir, um barulho veio do fundo do galpão.
Uma porta de metal se abriu com um estrondo, e Camila apareceu, sendo arrastada por dois homens armados.
— Camila! — gritou Isadora, dando um passo à frente.
Os capangas apontaram armas.
— Nem pensem nisso.
Andrew sentiu o sangue ferver. Ele poderia acabar com todos ali em questão de segundos se usasse sua força real… mas não podia. Não ali, não na frente de Paulo e Isadora.
Ele precisava de outra saída.
Camila estava amordaçada, mas seus olhos diziam tudo: ela estava aterrorizada.
O homem que parecia ser o líder deu um passo à frente e puxou Camila pelo braço.
— Sua amiga foi curiosa demais. Achou que podia vir até aqui sozinha e sair ilesa.
Paulo cerrou os punhos.
— Vocês são da Tentáculos, não são?
O homem sorriu de lado.
— Talvez. Mas vocês não viverão para contar a ninguém.
Os capangas começaram a avançar. Andrew viu Paulo e Isadora se encolherem ligeiramente, e Camila tentar se soltar, sem sucesso.
Era agora ou nunca.
Andrew agarrou a primeira caixa de metal ao seu alcance e a arremessou com precisão contra um dos capangas armados. O impacto foi forte o suficiente para derrubá-lo no chão com um gemido de dor.
O caos explodiu.
Isadora pegou um pedaço de cano e acertou o rosto de um dos bandidos. Paulo agarrou o braço de outro e o empurrou escada abaixo.
Camila aproveitou a distração para dar uma cotovelada no estômago do homem que a segurava e correu para perto dos amigos.
Andrew desviava de golpes com reflexos sobre-humanos, segurando a força para não levantar suspeitas. Quando um dos capangas tentou atacá-lo com um bastão, ele o desarmou com um movimento rápido, derrubando-o com um soco bem colocado.
Mas os inimigos eram muitos. E eles estavam armados.
— Precisamos sair daqui! — gritou Paulo.
Andrew olhou ao redor e viu uma grande pilha de caixas empilhadas perto da entrada. Uma ideia surgiu.
Ele avançou, fingindo tropeçar, e usou um empurrão "comum" para derrubar a pilha inteira. O estrondo e a poeira que subiram deram tempo suficiente para o grupo correr em direção à porta lateral.
— VÃO, VÃO!
Eles saíram em disparada para o carro de Paulo. Assim que entraram, ele deu a partida, cantando pneus na saída.
Os capangas saíram atrás, mas já era tarde demais.
Dentro do carro, todos estavam ofegantes. Camila ainda tremia, segurando os braços.
— O que diabos aconteceu?! — perguntou Isadora, virando-se para a amiga.
Camila respirou fundo, tentando organizar os pensamentos.
— Eu… eu achei que poderia descobrir algo importante.
Paulo lançou um olhar preocupado pelo retrovisor.
— Algo o quê?
Camila fechou os olhos por um instante, como se estivesse reunindo coragem para responder.
— Provas. Provas sobre o envolvimento do Grupo Cavalieri nessa história.
Andrew sentiu um arrepio na espinha.
— E o que você encontrou?
Ela respirou fundo antes de responder, sua expressão sombria.
— O Grupo Cavalieri pode ser limpo… mas tem gente usando o nome deles para algo muito sujo. E é muito pior do que imaginávamos.
Paulo e Andrew trocaram um olhar tenso. Se o Grupo Cavalieri era limpo, então quem estava usando o nome da empresa? E para quê?
— Explica direito, Camila — disse Paulo, tentando manter a calma. — O que você descobriu?
Ela olhou pela janela do carro, como se temesse que alguém pudesse ouvi-los, mesmo ali dentro.
— Eu fiquei de olho em alguns documentos internos que consegui acessar… e o nome do Álvaro Diniz apareceu.
Andrew franziu a testa.
— O empresário? O investidor da Tentáculos?
Camila assentiu.
— Sim. Mas tem mais. Há movimentações financeiras estranhas envolvendo empresas terceirizadas que prestam serviço para o Grupo Cavalieri. Só que, quando eu fui cruzar os dados, vi que algumas dessas empresas têm ligações com Diniz.
Paulo respirou fundo, assimilando as informações.
— Isso significa que ele pode estar usando empresas de fachada para lavar dinheiro ou fazer negócios sujos em nome do Grupo Cavalieri.
— Exato — confirmou Camila. — E se for isso mesmo, ele pode estar comprometendo a imagem da empresa sem que Leon Cavalieri sequer desconfie.
Andrew passou a mão pelo rosto, pensativo.
— Se o seu pai descobriu algo sobre isso, pode ser que esteja em perigo, Paulo.
Paulo apertou o volante, os dedos crispados.
— Meu pai nunca deixaria algo assim passar impune. Se ele já desconfiava de alguma coisa e começou a investigar…
Ele não precisou terminar a frase. O silêncio que se seguiu deixou claro o que todos estavam pensando.
Camila olhou para os dois, hesitante.
— Eu sei que isso é arriscado, mas precisamos descobrir até onde Álvaro Diniz está envolvido. Se ele realmente está usando o Grupo Cavalieri como escudo para algo ilegal, temos que encontrar provas concretas.
Paulo assentiu.
— Meu pai pode estar mais próximo da verdade do que imaginamos. E isso significa que o tempo está contra nós.
Andrew olhou para o celular, os pensamentos acelerados.
— Então vamos começar do jeito certo. Precisamos investigar Álvaro Diniz.
Camila respirou fundo.
— E rápido. Antes que ele perceba que estamos no encalço dele.
O silêncio no carro era carregado de tensão. Andrew sentia o peso da situação se intensificar a cada nova peça daquele quebra-cabeça. Se Álvaro Diniz estava usando empresas terceirizadas para encobrir transações ilícitas, o nome do Grupo Cavalieri estava sendo jogado no meio sem que Leon Cavalieri soubesse. E agora, com Roberto Carlos Farias possivelmente chegando perto demais dessa sujeira, as coisas poderiam ficar ainda mais perigosas.
Paulo quebrou o silêncio, ligando o motor do carro.
— Precisamos de um plano.
Camila olhou para ele.
— Como assim?
— Se formos investigar Álvaro Diniz, precisamos fazer isso direito. Sem chamar atenção.
Andrew cruzou os braços, pensativo.
— Começamos pelos registros públicos. Se há movimentações financeiras suspeitas, pode haver indícios nos contratos das empresas envolvidas. Podemos verificar quais dessas terceirizadas têm ligação com a Tentáculos ou qualquer outra empresa associada a Diniz.
Camila assentiu.
— Eu consigo acessar algumas informações. Não tudo, mas o suficiente para rastrear os principais contratos.
— E eu posso tentar falar com meu pai, sondar o que ele já sabe sem levantar suspeitas — completou Paulo.
Andrew olhou para ele com cautela.
— Tem certeza? Se o Roberto já desconfia de algo e Diniz está de olho nele, qualquer movimento errado pode alertar o lado errado.
— Eu sei — respondeu Paulo. — Mas eu preciso tentar.
Camila pegou o celular, digitando algo rapidamente.
— Vou precisar de um tempo pra coletar essas informações. Mas tem um lugar onde podemos conversar com mais calma?
Paulo pensou por um instante.
— A casa da Isadora. Os pais dela estão viajando.
Andrew concordou.
— Ótimo. Melhor mantermos isso entre nós. Quanto menos pessoas souberem, melhor.
O carro acelerou pela avenida, a cidade iluminada pela luz dos postes e pelo brilho distante dos prédios comerciais. No banco do passageiro, Andrew fechou os olhos por um instante, sentindo a inquietação crescer dentro dele.
Se estivessem certos sobre Álvaro Diniz, estavam prestes a pisar em um território perigoso.
E não havia mais volta.
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