Supremum - Sombras no Tabuleiro -T1/E19

 


O carro de Paulo deslizava pelas ruas silenciosas da madrugada, cortando a cidade em direção à casa de Isadora. Camila estava no banco de trás, ainda visivelmente abalada, enquanto Andrew e Isadora trocavam olhares preocupados.

O silêncio dentro do carro era pesado, até que Paulo quebrou a tensão:

— Agora que estamos todos juntos e em segurança, você pode explicar direito?

Camila hesitou por um momento antes de responder:

— Eu precisava de provas concretas. Algo que ligasse Álvaro Diniz diretamente às transações suspeitas e às terceirizadas que tão usando o nome do Grupo Cavalieri.

Isadora se virou no banco da frente, encarando-a com seriedade.

— Você tem noção do risco que correu? Esse cara tem contatos em todo lugar. Se ele perceber que você tá no rastro dele, pode simplesmente te fazer sumir.

Camila suspirou, esfregando o rosto com as mãos.

— Eu sei. E foi por isso que desapareci. Percebi que estavam me vigiando.

Andrew franziu a testa.

— Como assim?

Ela passou a mão pelos cabelos, tentando organizar os pensamentos.

— Durante os últimos dias, notei os mesmos carros estacionados perto de onde eu tava. No começo, achei que era paranoia. Mas, quando tentei acessar certos documentos, recebi alertas de segurança estranhos. Como se alguém estivesse tentando rastrear minha atividade. Foi quando decidi sumir por um tempo.

Paulo cerrou os punhos sobre o volante.

— Isso só confirma que estamos lidando com algo muito maior. Se Diniz tem esse nível de influência, qualquer passo em falso pode colocar a gente em perigo.

Andrew olhou pelo retrovisor para Camila.

— Mas e aí? Você conseguiu alguma coisa?

Ela pegou o celular e deslizou o dedo pela tela, abrindo uma série de arquivos.

— Aqui. São registros financeiros que consegui acessar através de um contato meu. Algumas dessas empresas terceirizadas receberam pagamentos absurdamente altos para serviços que nunca foram realizados. Algumas estão diretamente ligadas a contratos públicos, o que pode envolver desvio de verba.

Isadora analisou a tela rapidamente.

— E onde entra o Grupo Cavalieri nisso?

Camila apontou para um dos documentos.

— Essa empresa aqui, Moura Infraestrutura, tem contratos com a Tentáculos e também com subsidiárias ligadas ao Diniz. Além disso, encontrei conexões indiretas entre essas empresas e setores do Grupo Cavalieri.

Paulo franziu a testa.

— Mas se o Grupo Cavalieri é limpo, significa que alguém tá usando o nome deles pra lavar dinheiro ou legitimar negócios sujos.

Andrew passou a mão pelo queixo, pensativo.

— Se Leon Cavalieri descobrir isso, ele não vai deixar barato. Mas a questão é: como expor isso sem que a gente se torne alvo?

Isadora respirou fundo.

— Precisamos de provas mais sólidas antes de qualquer coisa.

Camila assentiu.

— Exato. E se formos a fundo nisso, podemos conseguir algo definitivo.

Um silêncio pesado tomou conta do carro. Todos ali sabiam que, a partir desse momento, estavam pisando em um território perigoso.

A madrugada parecia tranquila. Depois de tudo que tinham descoberto, o grupo decidiu se separar e descansar. O dia seguinte seria crucial para entender como agir diante das provas coletadas por Camila.

Mas os inimigos já estavam um passo à frente.

O Sequestro

A ação foi precisa e silenciosa.

Os invasores eram profissionais, bem treinados e equipados. Moviam-se como sombras, sem chamar atenção. Eles sabiam exatamente onde estavam suas presas e como capturá-las sem alarde.

Na casa de Paulo, o ataque foi rápido. Ele dormia profundamente quando mãos fortes o agarraram, pressionando um pano úmido contra seu rosto. Tentou lutar, mas a substância no tecido o fez apagar em segundos.

Camila não teve chance. Ainda exausta pelo estresse das últimas horas, sequer percebeu a presença dos sequestradores em seu quarto até sentir o golpe certeiro em sua nuca. O mundo escureceu.

Isadora mal teve tempo de reagir. Acordou com um vulto em cima dela, e quando tentou gritar, um soco no estômago tirou seu ar. Seu corpo perdeu as forças, e ela foi arrastada para fora da cama.

Em poucos minutos, os três estavam inconscientes e sendo levados para um destino desconhecido.

Mas um deles ainda estava acordado.

Ataque na Casa dos Menning

Andrew dormia leve. Desde que seus poderes surgiram, seu corpo reagia a qualquer sinal de perigo, como se tivesse um sexto sentido. E foi isso que o salvou.

A fechadura da janela do quarto foi aberta com precisão. Três homens encapuzados entraram, avançando na direção da cama. Um deles segurava um pano encharcado com o mesmo anestésico usado em Paulo.

Mas o colchão estava vazio.

— Que merd—

Um estrondo seco ecoou pelo quarto. O primeiro sequestrador foi arremessado contra a parede com uma força absurda. O segundo nem teve tempo de reagir antes de sentir um impacto na barriga que o fez voar para trás, derrubando o terceiro.

Os três homens mal conseguiam entender o que estava acontecendo. A última coisa que viram foi uma sombra em movimento, rápida demais para seus olhos acompanharem.

Em menos de cinco segundos, estavam todos no chão, imobilizados, os braços presos com lençóis rasgados.

Andrew se ergueu sobre eles, o olhar frio e determinado.

— Vocês mexeram com a pessoa errada.

Um barulho no andar de baixo fez seu coração disparar.

— Mãe.

Luíza em Perigo

Descendo as escadas em alta velocidade, Andrew viu a cena e seu sangue gelou.

Um dos sequestradores segurava Luíza Menning pelo pescoço, uma faca pressionada contra sua pele.

— Nem mais um passo, ou eu corto a garganta dela! — o bandido ameaçou, olhos arregalados.

Luíza, mesmo assustada, se manteve firme.

Andrew cerrou os punhos. Se tentasse algo precipitado, sua mãe poderia se machucar. Mas ele era mais rápido do que qualquer um ali.

Muito mais rápido.

— Tá bom, calma… — Ele ergueu as mãos lentamente, fingindo se render. — Não precisa machucá-la.

O sequestrador sorriu, confiante.

— Isso. Agora você vai—

Ele nunca terminou a frase.

Num piscar de olhos, Andrew já não estava mais onde estava.

Antes que o bandido pudesse reagir, sua mão foi esmagada por uma força absurda. O pulso estalou quando Andrew torceu sua articulação, fazendo-o soltar a faca e gritar de dor.

Com um movimento rápido, Andrew girou o homem no ar e o jogou contra o chão, imobilizando-o completamente.

Luíza ofegou, mas permaneceu firme.

— Filho…?

Andrew olhou para ela, ainda ofegante.

— Tá tudo bem, mãe. Eu prometo.

Mas no fundo, ele sabia que não estava nada bem.

Paulo, Camila e Isadora tinham sido levados.

E ele precisava encontrá-los antes que fosse tarde demais.

O silêncio na casa era denso, interrompido apenas pela respiração acelerada de Luíza Menning. Ela encarava o sequestrador desacordado no chão, ainda em choque com a velocidade e a precisão com que Andrew o derrubou.

Os olhos dela encontraram os do filho, e, naquele instante, a verdade que ela tentava ignorar há anos se tornou inegável.

— Andrew… o que foi isso? — sua voz carregava incredulidade e preocupação.

Ele hesitou por um momento. Não era assim que planejava contar para ela. Mas agora não havia mais volta.

— Mãe, eu juro que vou te explicar tudo depois. Agora, preciso ir atrás dos meus amigos.

Luíza respirou fundo, tentando assimilar tudo. Ela sempre soube que Andrew era diferente, mas nunca imaginou que fosse algo assim. No entanto, o medo de perder o filho falou mais alto.

— O que você vai fazer?

Andrew olhou para o sequestrador inconsciente no chão e depois para os outros dois amarrados no andar de cima. Eles podiam não saber onde seus amigos estavam, mas sabiam quem estava por trás disso.

Ele se ajoelhou ao lado do bandido que ainda estava consciente e o puxou pela camisa com facilidade.

— Quem mandou vocês?

O homem se remexeu, tentando resistir.

— Vai se ferrar! Eu não falo nada!

Andrew apertou a gola dele com um pouco mais de força.

— Fala. Agora.

O tom firme, a expressão fria e a força sobre-humana fizeram o homem engolir em seco.

— F-foi uma ordem de cima! Alguém quer calar vocês! Eu só sigo ordens!

— Quem?

— Não sei o nome! Só sei que tá ligado ao Álvaro Diniz! Ele quer vocês fora do caminho!

Andrew trocou um olhar com sua mãe. Álvaro Diniz. Aquele nome já havia aparecido nos documentos que Camila encontrou. Mas por que ele mandaria sequestradores atrás deles? O que ele estava tentando esconder?

— Pra onde levaram meus amigos?

— Eu juro que não sei! Só recebemos a ordem pra pegá-los e levar até um ponto de encontro!

Andrew respirou fundo, tentando controlar a raiva. Ele precisava se mexer.

Com um golpe certeiro na nuca, apagou o bandido. Em seguida, virou-se para a mãe.

— Chama a polícia, diz que houve uma tentativa de invasão. Mas não menciona meu nome nem o que eu fiz. Deixa eles cuidarem disso.

Luíza hesitou, mas viu a determinação nos olhos do filho.

— Andrew, por favor, tome cuidado.

Ele segurou as mãos dela e olhou nos olhos da mãe.

— Eu vou trazer meus amigos de volta. Eu prometo.

Ele pegou seu celular e ligou para Paulo. Caixa postal. Tentou Isadora. Nada. Camila também não atendeu.

O tempo estava correndo contra eles.

Andrew saiu correndo da casa e disparou pelas ruas escuras de São Paulo, numa velocidade tão rápida que ninguém conseguiria notar sua presença.

Ele não tinha um plano.

Mas tinha um objetivo claro: encontrar seus amigos e acabar com quem quer que estivesse por trás disso.

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