Supremum - Contenção Alpha

 


A maçaneta girou lentamente.

A tensão na sala tornou-se palpável, como se o ar tivesse sido drenado. Os quatro amigos se entreolharam. Isadora apertou o ombro de Andrew, e Paulo já puxava Camila discretamente para o fundo da sala, onde uma antiga grade de ventilação enferrujada chamava atenção — um alçapão vertical, quase escondido atrás de uma estante deslocada. Era estreito, sujo, mas levava a um nível inferior do prédio, talvez um antigo porão técnico.

Andrew foi o primeiro a se colocar entre os outros e a porta. Seus sentidos já estavam em alerta máximo — ouvia o farfalhar dos fios atrás das paredes, o zumbido irregular das câmeras, o ranger sutil de metal do sistema de ventilação… e o batimento acelerado de Isadora. Mas acima de tudo, escutava os passos no corredor — compassados, pesados — e aquilo não era humano. Não totalmente.

A porta se abriu com um rangido seco.

Um homem entrou. Alto. De terno escuro impecável. Cabeça raspada e óculos escuros, mesmo com a luz fraca. Sua pele era pálida demais, quase acinzentada. Três outros homens vinham logo atrás, rostos cobertos por capacetes opacos e armas em punho — mas não eram armas convencionais. Canhões curtos, compactos, de superfície negra e luzes pulsantes. Tecnologia desconhecida. A ponta de cada uma vibrava com uma energia azulada, semelhante a plasma condensado.

Mas o que mais gelou o sangue dos jovens foi o crachá preso no bolso interno do homem à frente:

FUNDAÇÃO GENOS – AGENTE DE CONTENÇÃO

De algum ponto externo, a voz metálica de um rádio soou com urgência:

“Subjetivo Alpha confirmado!” — gritou alguém do outro lado.
“Repito: Alpha em campo!”

Ele não disse uma única palavra. Apenas ergueu a mão.

— “Cuidado!” — gritou Isadora.

Andrew avançou no mesmo instante, em um borrão de movimento. Mas não foi rápido o suficiente.

O homem fechou os dedos.

Como se uma lâmpada invisível se apagasse no universo, tudo mergulhou em escuridão. As telas desligaram, os monitores chiavam em agonia antes de morrer. As luzes da sala estalaram como vidro quebrando e explodiram. As fechaduras automáticas das portas travaram com um som metálico seco. Era como se a própria energia tivesse sido arrancada à força.

Camila, Isadora e Paulo se jogaram para o fundo da sala.

— “Por aqui!” — Paulo puxava a grade do duto de ventilação, já solta por pouco.

O som das botas dos agentes de contenção ecoava no chão de concreto, acompanhadas do zummm pulsante das armas se armando. Um dos homens mirou.

Andrew se virou no último segundo e abriu os braços como escudo humano.

BOOOOM

Um feixe de energia atravessou a sala como uma lança azul. Bateu direto no peito de Andrew e o lançou contra a parede com violência brutal. A estrutura tremeu. Poeira caiu do teto.

Mas ele se levantou.

Camila olhou para trás, desesperada.

— “Andrew...!”

O herói apertou os olhos. Seu peito doía, mas nada estava quebrado. Seus olhos brilharam num tom verde intenso.

— “Saiam daqui. Agora.”

Sem esperar resposta, avançou.

Com um rugido, Andrew voou pelo corredor e atingiu o primeiro soldado antes que ele tivesse tempo de atirar novamente. O impacto foi tão forte que o homem atravessou a parede lateral. Fragmentos de concreto choveram para todos os lados.

O segundo agente tentou flanquear, mas Andrew já estava sobre ele. O chute que desferiu foi como um aríete. O homem voou longe, batendo com tudo contra o teto do corredor.

O terceiro atirou.

Andrew girou no ar, desviando do feixe. A energia passou a centímetros de sua cabeça e explodiu uma luminária acima, lançando faíscas e fumaça.

Mas então, o primeiro — o da cabeça raspada — ergueu a mão novamente. E dessa vez, quando fechou os dedos, a gravidade pareceu colapsar na sala.

O chão tremeu. O ar ficou denso. Andrew caiu de joelhos, sentindo como se toneladas pressionassem seu corpo.

— “O que... é isso?” — murmurou, suando, os músculos em tensão absoluta.

O agente deu um passo à frente, ainda sem falar. De perto, seus olhos por trás dos óculos eram como vidro opaco — sem alma.

No fundo da sala, Camila já havia se enfiado no duto, puxando Isadora. Paulo hesitava.

— “Ele não vai aguentar isso sozinho!”

— “Ele mandou a gente correr!” — Isadora respondeu. — “A gente corre!”

Paulo rangeu os dentes, mas então se virou e desceu.

Andrew, preso pela força gravitacional imposta, tremia, os punhos cerrados.

Então, com um grito gutural, suas pupilas brilharam em verde puro — e um raio concussivo explodiu de seus olhos, rompendo o campo invisível. O feixe cortou o ar como uma lâmina viva, atingindo o teto e fazendo tudo estremecer.

O agente se protegeu com a mão, mas foi jogado para trás.

Andrew cambaleou de pé. E voou.

Em alta velocidade, atravessou a sala, quebrou a porta dos fundos e saiu em direção aos corredores do Bloco H. Atrás dele, alarme vermelho começou a soar.

No subsolo, os amigos corriam pelos túneis. O lugar parecia um labirinto de manutenção abandonado, com canos enferrujados, luzes de emergência piscando, e ecos distorcidos.

— “Por onde agora?” — perguntou Camila, ofegante.

— “Pelo túnel da ala B! Leva até os fundos do prédio administrativo!” — Paulo respondeu, com o mapa ainda no celular.

Mas ao longe, outro som ecoava. Mais passos. Não estavam mais sozinhos ali embaixo também.

Enquanto isso, Andrew atravessava janelas e corredores, em voo rasante, desviando de mais dois agentes que surgiam no pátio interno. Um deles conseguiu atingi-lo com um feixe lateral, e o herói caiu com força sobre uma mesa de concreto.

— “AGH!” — rolou, mas se ergueu em segundos, os olhos mais furiosos do que nunca.

Ele gritou com toda a força — não um grito humano, mas quase um trovão. As janelas do bloco tremeram. Uma rajada de energia explodiu em todas as direções.

Lá embaixo, Camila olhou para cima.

— “Ele tá ganhando tempo pra gente...”

— “A gente precisa sair do campus.” — Paulo disse. — “A GENOS não tá brincando.”

Correndo pelos túneis, ouviram um estrondo acima — Andrew lançava outro raio concussivo contra um dos agentes restantes, derrubando a torre de vigilância da lateral do bloco.

Por fim, os quatro amigos se reencontraram nos fundos do campus, sujos, suados, tremendo. Andrew estava com um corte no supercílio, mas firme.

— “A GENOS mandou um agente de contenção só pra pegar vocês.” — disse, ainda respirando forte.

— “Ou pra nos apagar...” — murmurou Camila.

Andrew olhou para os prédios da universidade ao longe, depois para o céu escuro.

— “Agora sabemos do que eles são capazes. E o que estamos enfrentando.”

Ninguém respondeu.

Mas todos sabiam: a partir dali, não havia mais volta.

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