Supremum - Ecos do Despertar - T2/E5



A manhã chegou tímida, com a luz filtrando pelas janelas da sala de aula. Os quatro amigos estavam sentados lado a lado, mas não prestavam atenção à aula. A noite anterior ainda os assombrava — especialmente Andrew.

Camila passou os dedos nervosamente pelo cabelo, enquanto Isadora mordia levemente o canto do lábio inferior. Paulo encarava a mesa à sua frente, absorto. Andrew mantinha o olhar fixo no quadro, mas sua mente estava em outro lugar — naquele momento de poder absoluto em meio à floresta.

— “Precisamos conversar depois da aula”, murmurou Andrew.

Isadora assentiu, tocando levemente a mão dele sob a mesa.

Horas depois da aula, os quatro se reuniram num canto isolado do campus, próximo a um antigo pavilhão abandonado, coberto por trepadeiras e esquecido pelo tempo. O vento soprava fraco, mexendo as folhas secas no chão, como se a natureza também quisesse escutar o que seria dito ali.

Eles já haviam ouvido tudo. Já sabiam de onde vinham os poderes de Andrew. A noite na floresta os havia marcado para sempre — não só pelas explosões ou pelo medo, mas pela confiança absoluta que Andrew depositara neles. Agora, mais do que nunca, eram cúmplices de algo muito maior.

Andrew mantinha o olhar no chão, os olhos esverdeados perdidos em pensamentos.

— “Vocês acham que... eu posso estar sendo vigiado?” — perguntou, sem encarar ninguém.

Paulo cruzou os braços, pensativo.

— “Com tudo aquilo que aconteceu... não duvido. As coisas que você fez naquela noite... não foram normais nem mesmo pro seu padrão.”

Camila, ainda processando as últimas descobertas sobre a Fundação GENOS, abriu o tablet com as anotações.

— “Tem registros demais ligados ao nome do seu pai, Andrew. E todos terminam no mesmo lugar: sigilo, sumiço, encobrimento.”

— “Vocês acham que a GENOS... já sabia de mim antes mesmo de eu saber?” — Andrew perguntou, a voz baixa.

— “Talvez.” — Isadora falou com firmeza. — “Talvez desde o acidente. Talvez até antes. Mas agora eles sabem que você despertou. E se sabiam quem você era esse tempo todo... provavelmente estão nos observando também.”

Um silêncio pesado caiu sobre o grupo.

— “É por isso que precisamos nos preparar.” — disse Camila, com a determinação de quem nunca recua. — “Se estão atrás de você... vão atrás de nós também.”

Paulo assentiu.

— “Não somos apenas testemunhas. Somos parte disso agora.”

Andrew ergueu o olhar. Pela primeira vez desde a noite anterior, seus olhos brilharam brevemente — não de poder, mas de convicção.

— “Se querem me controlar... vão descobrir que não estou sozinho.”

Num local desconhecido, em meio a um centro de pesquisa escondido nas profundezas de uma montanha, cinco homens observavam gravações. Câmeras térmicas, drones e sensores haviam registrado a explosão de energia concussiva na floresta. As imagens congelavam o momento em que Andrew flutuava com os olhos iluminados em verde sob a lua cheia.

— “O Sujeito 47 despertou...” — murmurou uma voz grave.

O homem à frente da mesa se ergueu. Usava um terno preto impecável, a barba bem aparada e olhos frios.

— “Andrew Menning. Filho de Luíza Maria Menning. O mesmo acidente... o mesmo legado.”

— “O despertar foi mais forte do que esperávamos. Isso o coloca além da maioria dos que tentamos reproduzir. Ele é... genuíno.”

— “Ainda assim, vamos continuar com o plano. Iniciar os protocolos Alpha. Os outros precisam despertar também. Não importa o custo.”

As telas mudaram. Nelas, diversos jovens — desconhecidos — estavam sob observação. Alguns inconscientes, outros isolados, outros ainda em suas rotinas, ignorando que estavam sendo estudados.

— “Vamos criar um novo grupo. Super seres sob controle. E se Andrew não cooperar... será apenas mais uma peça descartável.”

Andrew teve um sonho inquietante naquela noite. Caminhava em um deserto de concreto. Estruturas metálicas erguiam-se ao longe, como torres de contenção. Em cada uma delas, jovens como ele gritavam, presos, com seus poderes sendo drenados. Ao centro, uma figura encapuzada sussurrava:

— “Você é o primeiro. Mas não será o único. Eles virão atrás de você.”

Ele acordou suando frio, os olhos brilhando por um breve instante em verde.

No dia seguinte, os quatro decidiram investigar. Camila, com seus contatos na universidade, conseguiu acessar arquivos antigos sobre acidentes nucleares. Paulo, que já havia estagiado com um promotor investigativo, sabia como buscar informações sigilosas. Isadora, calma e determinada, era a ponte emocional do grupo — quem mantinha todos focados.

Descobriram que o acidente que supostamente havia matado Joseph Menning, pai de Andrew, era cercado de informações desencontradas. O local do acidente havia sido lacrado por uma empresa privada chamada Fundação GENOS, alegadamente especializada em “pesquisas energéticas para o bem da humanidade”.

— “GENOS aparece em outros casos também...” — murmurou Camila. — “Sumiços de jovens com habilidades especiais. Acidentes nunca esclarecidos. Famílias silenciadas.”

Andrew fechou os punhos. Seus olhos brilharam por um segundo, mas ele controlou.

— “Se eles queriam me controlar... vão descobrir que escolheram a pessoa errada.”

De volta à base da Fundação GENOS, os cientistas analisavam dados.

— “Sujeito 47 está cercado de aliados. Não esperávamos isso.”

— “Iniciar o protocolo de isolamento. Vamos testar os limites dele. Se ele é instável, precisaremos forçá-lo a se render. E para isso... vamos começar com os amigos.”

As luzes da sala escureceram. No centro, o holograma de Andrew Menning era ampliado.

— “Hora de acionar os Caçadores.”

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