O alarme estridente soava pelo campus como um grito metálico. Luzes vermelhas giravam nas extremidades do Bloco H, lançando feixes sobre as árvores próximas, revelando brevemente a silhueta de corpos em movimento veloz. O cheiro de ozônio ainda pairava no ar após os disparos de energia.
Camila corria com Paulo pelas escadas de emergência, os pés batendo forte contra o metal. Isadora seguia logo atrás, ofegante, lançando olhares para trás. Andrew, no fim da fila, cobria a retaguarda, os olhos verdes varrendo as sombras.
— “Pra onde?!” — gritou Paulo, já sentindo os pulmões queimarem.
— “Prédio da biblioteca!” — Isadora respondeu. — “É grande, tem várias rotas de fuga!”
Mas não conseguiram chegar longe.
Um clarão laranja cruzou o céu como um cometa, cortando as árvores e explodindo no solo adiante. O chão tremeu. O grupo foi lançado no ar como bonecos de pano.
Eles rolaram no gramado, tossindo e atordoados. Quando levantaram, ele já estava lá.
Léo Archanjo.
Os olhos brilhavam em tons âmbar incandescente. A boca semiaberta mostrava dentes rangendo com fúria. Ele ergueu o braço — uma arma de energia embutida substituÃa o antebraço esquerdo — e apontou para Andrew.
— “Subjetivo Alpha detectado. Iniciando contenção.”
Andrew rangeu os dentes.
— “Saiam daqui.”
— “Andrew, não—” começou Isadora, mas ele já avançava.
A pancada entre os dois foi sÃsmica. O impacto espalhou uma onda de choque que estilhaçou janelas próximas. Andrew foi lançado contra uma árvore, mas se levantou em segundos. A pele levemente arranhada já começava a se regenerar.
Léo avançou novamente. Andrew desviou, pegou uma pedra do chão e lançou com força. A pedra virou um projétil supersônico que se desfez ao atingir a armadura do inimigo.
— “Ele não sente dor...” — murmurou Andrew.
No alto do bloco administrativo, duas novas figuras observavam a cena.
Kira Voss, e ao seu lado, quase como uma sombra viva, Caio Ferraz.
O corpo de Caio vibrava de forma irregular, como se oscilasse entre real e irreal. Em um segundo, sumiu. No seguinte, já estava entre Paulo e Camila.
— “Ele tá aqui!” — gritou Paulo, puxando Camila para o lado.
Mas Caio não atacou.
Ficou parado. Piscando. Os olhos azuis tremeram. Um breve eco de hesitação.
— “Camila...?” — ele sussurrou.
Ela congelou.
— “Você... você me conhece?” — disse ela, sem saber se era verdade ou apenas provocação.
O instante foi interrompido por Kira, que ativou seu poder com um gesto sutil da mão.
A realidade ao redor pareceu derreter. As árvores se curvaram, o céu ficou púrpura, as vozes dos amigos de Andrew se distorceram como em um pesadelo. Uma ilusão.
Paulo caiu de joelhos, tentando tapar os ouvidos.
Camila chorava, perdida num transe.
Isadora tremia, os olhos arregalados, como se visse sua própria morte.
Mas Andrew resistiu.
Ele avançou direto contra Kira, atravessando a ilusão. Cada passo era uma batalha contra a mente. A memória de seu pai, de sua mãe grávida no hospital, o fogo, a dor da radiação... ele viu tudo. Mas continuou.
Atingiu Kira com um soco preciso. Ela foi jogada contra a parede do bloco e a ilusão desfez-se em um estalo. A realidade voltou.
Andrew caiu de joelhos, suando, os olhos ainda brilhando em verde.
— “Vamos...” — sussurrou. — “Agora!”
Paulo ajudou Camila a levantar. Isadora puxou Andrew, que ainda ofegava.
Léo Archanjo se reerguia entre as árvores, um braço chamuscado.
Caio os observava de longe, em silêncio. Quando Kira tentou levantá-lo com a mente, ele se desvaneceu... mas reapareceu no alto de uma árvore, olhando o grupo fugir. Uma mão tocou o próprio peito, confuso.
— “Camila...”
Ela virou o rosto, ainda abalada, e encontrou o olhar dele. Algo ali não era mais controle absoluto. Era memória.
Ele desapareceu novamente.
O grupo correu por entre os prédios, usando os becos e jardins para despistar os drones de reconhecimento. O campus parecia um campo de guerra iluminado a vermelho. Sirenes, luzes, vozes pelos alto-falantes.
Na parede do laboratório de ciências, encontraram uma grade solta — um antigo túnel de manutenção.
— “Aqui!” — gritou Isadora, puxando a grade.
Entraram, um por um. Andrew por último. No instante em que entrou, uma explosão abalou a parede acima. Kira havia recuperado a consciência.
Mas já era tarde. O túnel era estreito e oculto.
Eles haviam escapado. Por ora.
Lá dentro, no escuro, Camila chorava em silêncio. Isadora segurava sua mão. Paulo tremia, mas mantinha a cabeça erguida. Andrew olhou para os três. A respiração ainda irregular. O mundo deles nunca mais seria o mesmo.
E lá fora, sob a lua pálida, Caio Ferraz observava o ponto por onde eles fugiram, os olhos cheios de dúvidas.
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