Supremum - Predadores

 


O som do rompimento das cápsulas foi como um trovão abafado. Estalos metálicos, vapor liberado sob pressão, o ar se tornando quente e denso. Kira, Léo e Caio abriram os olhos ao mesmo tempo, como se tivessem despertado de um transe profundo.

As luzes da sala piscaram em sequência, acompanhando o pulso de energia que emanava dos corpos alterados. O trio emergia lentamente das cápsulas, seus olhares vazios, os movimentos rígidos, mas perfeitamente coordenados. Nenhuma palavra entre eles, apenas respiração sincronizada e o som metálico dos passos ecoando pelo laboratório.

— “Eles acordaram...” — murmurou Paulo, olhos fixos na cena enquanto a câmera do tablet ainda captava parte do feed interno da sala. — “Estão vindo.”

Andrew se posicionou mais à frente, em frente à passagem de ventilação onde os três amigos já estavam quase prontos para descer. Ele não podia fugir. Não ainda.

Camila apertou a mão de Paulo. Isadora trocou um olhar rápido com Andrew — e naquele olhar, disseram tudo o que precisavam.

O primeiro a se mover foi Caio Ferraz.

Seu corpo brilhou por um instante e, num piscar de olhos, ele desapareceu — como um raio desfeito no ar. Uma vibração percorreu as paredes quando ele ressurgiu a centímetros de Andrew, lançando um soco envolto em eletricidade.

Andrew girou o tronco e bloqueou com o antebraço. A força foi grande, mas suportável. Ele revidou com um empurrão, tentando jogar Caio para longe. O jovem se desmaterializou no ar antes do impacto.

— “Intangível e rápido. Ótimo...” — murmurou Andrew, recuando.

Antes que pudesse se reposicionar, Léo Archanjo avançou. Seu passo era como o de um tanque. O chão vibrava sob seu peso. Partes de seu corpo se abriram, liberando pequenas rajadas de vapor e calor. De suas mãos, jatos de energia térmica começaram a se formar — laranja vivo, com bordas brancas como sol condensado.

Andrew não teve tempo para bloqueios. Saltou para o lado quando a rajada foi disparada, acertando uma parede que imediatamente explodiu em chamas. Detritos caíram do teto, e Camila gritou ao ver faíscas atingirem os cabos próximos à entrada do duto.

— “Vão agora!” — gritou Andrew. — “Sigam o plano!”

Paulo entrou primeiro no duto. Isadora hesitou apenas um segundo, então seguiu. Camila foi a última a se arrastar, olhando para trás até o último segundo, os olhos presos em Andrew.

Foi quando Kira Voss entrou em ação.

Ela não precisou correr. Apenas olhou para Andrew, os olhos brilhando em um tom púrpura surreal. A realidade pareceu entortar. O chão se inclinou. A sala girou. De repente, Andrew se viu de volta à infância, em sua antiga casa, ouvindo a voz do pai. Uma lembrança? Não. Uma ilusão.

— “Você não é um herói,” sussurrou a Kira da visão. “Você é uma arma prestes a quebrar.”

Andrew cerrou os dentes. Sabia o que estava acontecendo. Seu cérebro tentava lutar, mas as emoções trazidas pelas memórias distorcidas o enfraqueciam.

Ele rugiu e liberou uma rajada concussiva de energia verde pelos olhos, como um reflexo de sobrevivência. A explosão varreu a ilusão — Kira gritou e foi lançada contra o console atrás dela. Equipamentos explodiram em faíscas.

Caio voltou, agora vindo do teto, descendo como uma centelha. Andrew o interceptou no ar com um soco preciso, que explodiu em uma onda de impacto que rachou o chão. Pela primeira vez, o “fantasma” demonstrou dor.

Mas Léo não deu trégua. Uma nova explosão térmica engoliu metade da sala. Andrew se protegeu com o braço, resistindo ao calor, mas sentia a pele formigar. Estava ficando mais difícil. O tempo estava contra ele.

No subsolo, o trio de amigos rastejava pela tubulação velha. O metal chiava sob o peso, e poeira caía do teto como neve de ferrugem. Paulo guiava com o tablet, rastreando a estrutura interna. Havia uma saída pelo laboratório químico no Bloco F, se conseguissem tempo.

— “Precisamos desviar os sensores térmicos da GENOS ou vão rastrear a gente!” — disse Paulo, digitando freneticamente.

— “Andrew vai aguentar?” — perguntou Camila, ofegante.

Isadora respondeu antes dele: — “Ele tem que aguentar. Porque se cair... não vamos conseguir sair daqui.”

De volta ao combate, Andrew percebeu o padrão dos movimentos de seus oponentes. Eles estavam sincronizados, mas rígidos — como se seguissem comandos programados. Talvez pudesse quebrar isso.

Ele correu em zigue-zague, confundindo Caio. Saltou por cima de Léo, desferiu uma cotovelada no crânio reforçado do gigante, e então se posicionou em frente a Kira, que tentava se reerguer.

— “Você era uma de nós,” disse Andrew, ofegante. “Ainda pode ser. Você tem nome. Kira. Lembra disso?”

Os olhos dela tremeram por um segundo. Pequeno. Quase imperceptível. Mas real.

Léo atacou. E Andrew não teve escolha. Usou tudo.

Ele canalizou a energia pelos olhos e disparou uma rajada massiva contra o chão entre eles. O impacto criou uma cratera, rachou a estrutura e fez o teto começar a ruir. Pedaços de concreto despencaram. A sala tremeu. Os três NEUROMAX recuaram por instinto.

Foi o tempo que Andrew precisava.

Ele correu. Um borrão loiro e verde pela fumaça e poeira. Seguiu o caminho indicado por Paulo e pulou direto no duto antes que o teto desabasse por completo.

Lá embaixo, os três amigos ofegavam, esperando no laboratório químico. Quando a grade do duto caiu e Andrew rolou para fora, coberto de poeira e fuligem, Isadora correu até ele e o segurou.

— “Achei que...”

— “Eu estou aqui,” respondeu ele, sorrindo com os olhos.

Mas a vitória era temporária.

Porque no laboratório acima, os três NEUROMAX se reerguiam lentamente. Sem dor. Sem medo. Sem alma, verdadeiros predadores.

E a verdadeira luta, apenas começava.

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